Livro de Artista: Um Híbrido De Schwanke

21/04/2018 até 13/05/2018

Schwanke: Destaque

O projeto nasceu do desejo do Museu de Arte Contemporânea Luiz Henrique Schwanke de colocar o seu acervo em exercício e de forma contínua. Assim, todos os anos, um pesquisador, curador ou crítico de arte será convidado para selecionador um trabalho ou pequena série de trabalhos, com o propósito de colocar em destaque para discussão uma característica, um conceito ou um comportamento da obra de Schwanke, seja em relação à produção e poética do próprio artista, seja em relação à história da arte ou ao contexto contemporâneo.

Nesta primeira edição do projeto, um dos três livros de artista produzidos por Schwanke foi colocado em destaque pela pesquisadora Dalva Alcântara, que investigou este trabalho em ocasião da escrita de sua dissertação de mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade.

No andar de cima do espaço do Instituto Internacional Juarez Machado, foi organizado um ateliê de criação, onde serão realizadas ações educativas com as escolas visitantes. Assim, por meio desta mostra, e das atividades educativas realizadas, desejamos que o espectador vivencie uma experiência estética significativa, e que aprofunde seu olhar dentro do universo poético deste que é um dos artistas mais importantes para a história da arte catarinense.

Alena Rizi Marmo Jahn

Curadoria Educativa

Diretora Cultural

Instituto Luiz Henrique Schwanke

“Livro de Artista”: Um híbrido de Schwanke

Na segunda metade do século XX o diálogo entre as artes visuais e a literatura levou à diluição dos seus limites, à aproximação e o intercâmbio dessas linguagens. Poesia visual, arte, tipografia, texto, imagem e design intercambiaram- se, hibridizaram-se, gerando obras que romperam as fronteiras atribuídas aos livros de leitura e assumiram-se como objetos de arte, representando uma linguagem nova, entre o linear e o visual, entre a literatura e as artes: os chamados “livros de artista”. Arraigado nos territórios de ligação e de interpenetração dos mundos da arte e da comunicação, o livro de artista é, por vezes, confundido com o livro de arte, que nada mais é que um livro “comum”, um suporte de informação, mas não uma “obra de arte”. Nos Livros de Artista, a arte apropria-se da página como suporte ou matéria, onde se instala equilibrando-se entre o respeito às conformações tradicionais e a transgressão às normas consagradas da apresentação do objeto livro.

O Livro de Artista, obra intermidiática e de natureza híbrida, habita um espaço no qual não cabem definições fechadas, havendo ainda divergências e diferenças conceituais entre os estudiosos do assunto. No sentido amplo, o Livro de Artista é um filo, uma categoria da arte contemporânea, podendo ser também um dos subgrupos dessa mesma categoria: o subgrupo “livro de artista”. O livro como objeto de arte é interdisciplinar e assume o caráter de universalidade que contêm as obras de arte, a sua capacidade de desvanecer fronteiras e o seu possível não pertencimento a um único território.

Na década de 1980, Luiz Henrique Schwanke (Joinville 1951-92), realizou uma profusão de pinturas conhecidas como “Linguarudos” e por ele denominadas Perfis”. Pintados individual e compulsivamente, os milhares de “Perfis” são rostos, por vezes quase não figurativos, de homens ou mulheres, sobre papéis velhos descartáveis: páginas de livros (corroídos, alguns rasgados), livros contábeis, apostilas de cursinho, revistas e jornais. Sobre a precariedade do suporte, Schwanke impunha a expressividade do gesto.

Schwanke selecionou 160 dentre seus milhares de “Perfis” e organizou-os sob o formato de um livro com 20 páginas. Um livro encadernado de grandes dimensões que contém em cada uma de suas páginas, oito pinturas coladas lado a lado, feitas individualmente à guache em suportes variados. Trata-se de um exemplar único e sem referências de quando foi elaborado, com uma singular formatação – um livro – incomum para o artista que habitualmente organizava os Perfis em painéis.

Conhecido por poucos, esta exposição do original do Livro de Artista de Schwanke, obra híbrida e ímpar em sua produção, pode configurar-se como um estímulo para outras explorações, para novas leituras, para outros desvelos do extenso conjunto de obras que o artista deixou, pois Schwanke foi “muitos”.

Dalva Alcântara

Curadora

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