Inquietações – Maria Salette Engels Werling

21/11/2020 até 1/03/2021

Ao indagarmos a pintora Maria Salette Engels Werling sobre a relação de sua obra com o árduo ofício das mulheres agricultoras, ela nos responde com a sabedoria feminina de qualificada artista e dedicada arte educadora, são as memórias afetivas, segundo seu emocionado depoimento, e não as vivências elementares, que conduzem a sua lógica emocional e o seu imaginário.
Vivendo numa geografia entrecortada por vales e colinas com variações cromáticas do verde Veronese ao violeta cerúleo e os tons terrosos, é a artista nata, em sua essência, que vai colhendo todos esses frutos para fomentar sua curiosa e transformadora imaginação. Quando criança e adolescente a caminho da escola ou em viagens com a família pelas tortuosas estradas no interior de Santa Catarina, Maria Salette observava a paisagem em silêncio e à distância, e via ali nascer e florescer sua inspiração. A natureza viva diante dos olhos da pequena criatura transforma-se, em toda sua plenitude, nas elaboradas pinturas de agora.

Suas obras no percurso desde a década de 1980 têm passado por avaliações críticas elogiosas e comentários pertinentes nas palavras de importantes pesquisadores das artes visuais – Lindolf Bell, Lygia Roussenq Neves, Roseli Hoffmann, Suzana Sedrez, Vilson do Nascimento, entre outros. Todos acentuam, com precisão cirúrgica, o caráter telúrico, memorialista, lírico e poético da artista.  Mas a Maria Salette é inquieta.E é em Inquietações, título desta exposição a convite do Instituto Internacional Juarez Machado, que mais uma vez ela nos surpreende:  Subverte a topografia criando novas e requintadas paisagens. Transfigura a linha do horizonte e revitaliza os códigos cromáticos em desdobramentos cenográficos. Traça com suavidade o pincel na tinta oleosa como o arado rasga a terra úmida. Redimensiona com sobreposições volumétricas as silhuetas montanhosas, sugerindo planos geométricos tridimensionais. Recorta inúmeros e minúsculos esboços e os redimensiona transferindo o jogo lúdico do papel para imensas telas. Agrega à poesia latente da memória, um contundente manifesto de substrato social, ruralista, revolucionário e libertário.  O que mais pode-se observar – e admirar – na rica fatura pictórica de Maria Salette Engels Werling?


Edson Busch Machado – curador e diretor artístico do Instituto Internacional Juarez Machado

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