Circuito Expositivo – Schwanke

27/05/2017 até 4/08/2017

Luiz Henrique Schwanke (Joinville, SC 1951 – 1992) depurou diferentes referências em suas produções. De um lado, alcançou experimentações bastantes racionais advindas do construtivismo, do minimalismo e do concretismo, apropriando-se de objetos industrializados e de uso cotidiano, tais como perfis de persiana, prendedores de roupa, mangueiras e outros objetos plásticos. De outro lado, processou dimensões mais emocionais e gestuais que vão do barroco ao expressionismo, passando pelo dadaísmo, surrealismo e informalismo, além da pop art e da arte povera, resultando nos desenhos, colagens, pinturas e instalações em que fez uso de papelão e jornal, espetos de ferro, spots e lâmpadas. Porém, não se trata de um procedimento polarizado, mas de uma travessia incessante, uma vez que, aquilo que deveria ser marcado pelo cálculo, despersonalizado e banido de emoção pelo recurso de materiais industriais, não repousa em si mesmo, mas cria constantes tangências com o universo orgânico, o erotismo e a densidade trágica. Assim, os procedimentos de encaixar, emparelhar, alinhar não estão longe de expurgar, trepidar, fibrilar.

Quadros feitos com perfis de persiana (piso térreo) se apresentam como a imagem de uma janela obliterada pelas cores. Entre a janela e a cortina, Schwanke parece sugerir as linhas e cores como desdobramento de desenhos e pinceladas ou sutis figurações de padrões ornamentais e abstrações geométricas modernistas. A pintura emerge como uma questão sobre o que lhe é intrínseco e também o que lhe escapa até tornar-se uma outra coisa. O mesmo acontece no quadro feito com prendedores de roupa coloridos, com as maletas e os galões (piso térreo) dispostos num enquadramento como se estivessem numa tela, mas em desacordo com as noções de superfície e profundidade, forma e conteúdo.

Desenhos com ecoline e lápis de cor (piso superior) chamam atenção pela sua surpreendente fatura. Embora lembrando algum detalhe de Leonardo da VinciAntonello de MessinaAntônio CanovaRenoir ou Mondrian, recusam uma aproximação de reconhecimento imediato e a mera apropriação, acolhendo um gesto de depuração e atravessamento entre figurações da história da arte e do design. Assim, é um pequeno vestígio que invade cada desenho com a mesma intensidade e soberania de um sonho, cuja figuração se expande e faz cintilar o que seria somente um diminuto e despercebido fragmento diurno.

As séries de cabeças, torsos, leõezinhos e meninas (piso superior) destacam o entrelaçamento entre orgânico e inorgânico, cálculo e reverberação, regra e variação, formas e caos, contestação especial e intensidade expressiva. Anatomias híbridas de animais e humanos, masculinos e feminino dão uma leveza e humor às formas realçadas por detalhes em constante metamorfose de nádegas, seios e testículos ou pênis, garras e narizes. A mesma indistinção, embora com mais consistência dramática, aparece na série conhecida como Linguarudos ou Carrancas (piso térreo), onde sempre há uma boca aberta por onde avança uma língua cuja forma frequentemente se assemelha ao nariz, queixo ou penis. Nessa dramaturgia corporal, o orgânico se desnacionaliza e a subjetividade se torna uma potência de dissolução.

Recorrendo aos procedimentos seriais e suas alterações, devem ser considerados os sonetos (piso superior) com recurso de decalques de flores, peixes e insetos, alinhados com obstinada perfeição e constituindo-se na figuração de uma poesia muda ou linguagem poética interditada ao significado. Assim, para ver é preciso silenciar qualquer esforço explicativo, sendo que falar sobre estas imagens é tomá-las por onde nem as coisas não estão. 

Rosângela Cherem

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