Algoritmos – Guido Heuer

19/08/2017 até 26/10/2017

A Ideia Absoluta de Guido Heuer

Talvez a futurista ficção da virtual reality ambientada num hipotético ano de 2044 traga luz ao tema, sob olhares menos cirúrgicos. Mas a lógica das “sequências finitas e instruções não ambíguas” deixa de ser apenas o signo do futuro, na consciência individual de um agudo artista contemporâneo. Guido Heuer, com extraordinária atualidade, antecipa os gizmos do tempo e disseca a distópica fisiologia comportamental da geração millenial e suas gadgets na nova série que intitula Algoritmos.

Há senso de urgência em suas obras não emolduradas nas vicissitudes da mera representação. Ritmo tecnológico, conexões matemáticas, expressões numéricas, imbricados fluxogramas, astronomia, analogia, simetria, são visíveis na linguagem organizada do manipulador estético. Os metais corroídos, extensores, resíduos ácidos e acentos morfológicos mantém o objeto palpável e o arcabouço técnico. Sua dimensão poética, entretanto, eleva a inteligência à outra plataforma. O mundo altamente científico com acesso à informação em tempo real  estimula ao imponderável imprevisto, ao transcendental.

É a chave da deliberada provocação desse artista.

Algoritmos são sistemas, sabemos todos nós usuários e navegadores computacionais, reféns dos códigos da web, desktop, Windows, streaming, smartphones  tablets para resolver um problema ou executar uma simples tarefa. Pois Guido Heuer subverte a ordem hierática, arrasta a complexidade à obsolescência da hegemonia, atribui a decisão ao destino, e com o gesto criador de sua arte, materializa o que é indefinível.

Dois campos distintos do conhecimento humano alimentam os conceitos da exposição Algoritmos. O fundamento filosófico que reascende quando Guido Heuer problematiza e submete o espectador à reflexão, sinais de sua ancestralidade. SchellingNietzcheHeideggerKantSchopenhauerHegel, e talvez Marx seriam seus endereços inspiradores nas atmosferas densas das ruas em Berlim.                                                                                                                

E o ímpeto de jogar, aquele movimento quase pueril de arrebatadora coragem, mais uma vez o imponderável diante das “regras inflexíveis” da brincadeira do diagrama que chamávamos Pipopipette, o algoritmo onipresente, ou nos desenhos riscados à giz do Jogo da Amarelinha. O balanço pendular, a fórmula da ladainha paroquial, a centelha no infinito, são seus Hai Kais gráficos.

No pensamento científico existe sempre o elemento poético, argumentava Einstein. A  obra de Guido Heuer é a inexorável certeza dessa alquimia. 

Edson Busch Machado, 2017

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